quinta-feira, julho 18, 2013

7.


"Amanhã." A palavra
ia solta, alheada,
vazia, no ar,
tão sem alma e sem corpo,
tão sem cor nem beijo,
que a deixei passar
ao lado, no meu hoje.
Mas logo tu
disseste: "Eu, amanhã..."
E tudo se povoou
de carne e de bandeiras.
Precipitaram-se sobre
mim as promessas
de seiscentas cores,
com manequins
nuas, mas todas
cheias de carícias.
Em trens ou em gazelas
chegavam-me – agudos,
sons de violinos –
esperanças delgadas
de bocas virgens.
Ou velozes e grandes
como navios, de longe,
como baleias
de mares distantes,
imensas esperanças
de um amor sem fim.
Amanhã! Que palavra
toda vibrante, tensa
de alma e carne rosada,
corda do arco onde
tu puseste, agudíssima,
arma de vinte anos,
a flecha mais firme
quando disseste: "Eu..."

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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