terça-feira, julho 23, 2013

14.


Para viver não quero
ilhas, palácios, torres.
Que mais alta alegria:
viver nos pronomes!

Despe-te já dos trajes,
dos sinais, dos retratos;
eu não te quero assim,
disfarçada de outra,
filha sempre de algo.
Quero-te pura, livre,
irredutível: tu.
Sei, quando te chame
entre todas as pessoas
do mundo,
só tu serás tu.
E quando me perguntes
quem é este que te chama,
este que te quer sua,
enterrarei os nomes,
os rótulos, a história.
Irei rompendo tudo
o que sobre mim deitaram
ainda antes de nascer.
E de volta já ao eterno
anonimato da nudez,
da pedra, do mundo,
dir-te-ei:
"Eu quero-te, sou eu."

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

1 comentário:

Brasilino Pires disse...

Uma vez sem exemplo (e correndo o risco de ser mal interpretado), posso oferecer-lhe isto?

http://ruadaspretas.blogspot.pt/2012/01/pedro-salinas-para-viver-nao-quero.html