domingo, maio 05, 2013

Autografia


A minha juventude foi desenfreada
em maviosa fúria mais amor de louco:
deambulava lúcido na noite d'ébano,
dormia a sono sôlto sob a chuva;
no ébano esculpia um som de linho,
cada gota de chuva era uma pérola
irregular, e o sonho meu vizinho

E descobri as leis da linguagem:
o poema a si próprio se escrevia
sem minha intervenção e só com minha
caligrafia branca numa nuvem

Agora, que começo a ser incómodo,
a minha juentude é d'arte sacra:
as coisas só se voltam do avêsso
pra dar com Deus de caras na palavra

- António Barahona
in Maçãs de Espelho, Língua Morta

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