sábado, janeiro 05, 2013

Emenda


São os passos do outono
neste verão, os nós
da árvore representando
a vida. Tenho um envelope
com uma morada
e o teu nome começa
por nenhuma letra,
sombras da vontade
de amar iludem
a falsa fronteira
dos números. Assim te
recordo, a sempre presente
imagem do único, o que
escolho vacila, desiste
de certezas. Alguém
que te recorda: vais deitas
o envelope no cilindro
vermelho, vais deitar-te
quando a noite está a chegar
ao dia. O sino deste
relógio afugenta o sonho,
vem na luz do dia
o primeiro poema, o desejo
lembrado quando está
para morrer. Quem aí está
não reconhece que somos
o que a vontade fez, temos
livros na mesa e vasos
com flores, demoramos
a perceber quem se demora,
sabemos muito mais
da nossa vida. É a flor
do outono que se engana
nas palavras, a emenda
recupera a verdade, é a
flor do verão erguendo-se
na indecisão do outono.

- Helder Moura Pereira
in De novo as sombras e as calmas, Contexto

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