quarta-feira, março 28, 2012

História policial

Quem consegue, por inteiro, renunciar
À sua paisagem, à esconsa rua da aldeia, à casa
Entre árvores, pertinho da igreja? Ou então
À radiante casa citadina, com colunas coríntias, ou
Ao apartamento operário, em qualquer caso
Uma casa, um centro onde acontecem as duas
Ou três coisas que nos acontecem?
Quem não consegue traçar o mapa da sua vida,
Sombrio na estação onde encontra os seus amores
E se despede continuamente, assinalar o ponto
Onde o primeiro corpo da felicidade foi descoberto?

Um mendigo desconhecido? Um magnate? Um enigma
Sempre, com um passado bem enterrado: e quando a verdade,
A verdade acerca da nossa felicidade é descoberta,
Quanto é devedora de chantagens e galanteios.

A sequência é banal. Tudo corre segundo o plano:
A disputa entre o senso comum local
E a intuição, esse amador irritante
Que tem sempre a sorte de chegar ao local antes de nós;
Tudo corre segundo o plano, a mentira e a confissão,
Até à excitante perseguição final, o assassínio.

Contudo, na última página, uma dúvida perturbante:
O veredicto foi justo? Os nervos do juiz,
Essa pista, esse protesto da assistência,
O nosso próprio sorriso... porque, sim...

Mas o tempo é sempre culpado. Alguém deve pagar
Pela nossa felicidade perdida e até pela nossa felicidade.

- W.H. Auden
(tradução de José Alberto Oliveira)
in O Massacre dos Inocentes, Assírio & Alvim

Sem comentários: