à beira do abismo, vou chamando
Deus. E o seu silêncio, retumbando,
afoga a minha voz no vazio inerte.
Deus, se tenho de morrer, quero-te
desperto. E, noite a noite, não sei quando
hás-de ouvir a minha voz. Deus, estou a falar
sozinho, arranhando sombras para ver-te.
Estendo a mão, e tu cerceias-me o gesto.
Abro os olhos: arrancas-mos vivos.
Tenho sede, fazem-se em sal as tuas areias.
Ser homem é isto: horror às mãos cheias.
Ser – e não ser – eternos, fugitivos.
Anjo com enormes asas acorrentadas!
- Blas de Otero
in Ancia, Visor
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