quinta-feira, janeiro 12, 2012

A garrafa vazia assemelha-se à minha alma

Solícito o silêncio desliza
pela mesa nocturna,
excede o irrisório conteúdo do copo.
Não beberei mais até tão tarde.
Volto a ser o tempo que me resta.
Por trás da penumbra
jaz um corpo desnudo
e há um jorro de música hedionda
dilatando as bolhas da vidraça.
Tão distante como a minha juventude
pernoita entre os móveis o amorfo
o tenaz e oxidado material do desejo.
Que aviso mais penúltimo
ameaçando nas portas
nas torneiras, nas cortinas.
Que repentino terror de campainhas.
A garrafa vazia assemelha-se à minha alma.

- José Manuel Caballero
(versão de J. E. Simões)

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