A invejosa boca do tempo se escancara
para engolir as almas de isopor.
Os dias são iguais. E para separá-los
— como quem afasta alguns pêlos entre lábios —
as valvas fulvas se contraem
sob os lençóis da Noite.
Tudo é passagem para o som e a forma
mas não se ouve a trompa que ressoa
buscando alguém na Ilha do Tesouro.
A espada pende no vazio do mundo e chama
o estojo. E os suspiros vagam
nos brejos que resumem o diálogo
entre o pênis e a vagina.
Feliz Ano Novo! diz o meu irmão hipócrita
e vomita o que comeu e bebeu o ano inteiro.
Nas igrejas, boates e macumbas
balimos e bailamos, as ovelhas
que os filtros da redenção embebedaram.
E lançamos ao mar o tributo florido
de nossa gratidão. E os deuses nos desprezam.
- Lêdo Ivo
in Poesia Completa, Braskem
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