sexta-feira, setembro 23, 2011

A palavra

De nada te hão-de servir os versos que agora escrevas.
A emoção que pões neles torna-te digno,
mas não te salva, pois ficarão sem resposta.
Será que não entendes que o silêncio é mais claro
e que com a palavra ofereces distância e concluis
o que foi sempre começo, final, ou nunca chegou a ser?

Olha para lá da tormenta o dia amanhecendo.
Nas janelas a alba deixa uma luz dourada.
Tremem, sobre os charcos, as últimas estrelas.
Serve-te de alguma coisa suplantar a sua beleza?

- José Mateos
in Una extraña ciudad, Renacimiento

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