terça-feira, julho 05, 2011

XIII

O meu pai não é o mesmo desde então
e não o é porque talvez a ausência
esteja demasiado presente. Um vazio que o preenche
todo, que não o deixa ver para além dele próprio,
ocupa-lhe a mente e o peito.

Teria sem dúvida preferido uma espera
mais longa, percorrer aqueles corredores brancos
mais vezes, tornar a morte mais lenta...
e as pessoas não percebem todas estas coisas,
e olham-no e vêem-no afectado sem o compreenderem.

O meu pai, tal como o resto, não é o mesmo
desde então, a espera e o desenlace
confundiram-no.

Todos em alguma ocasião temos contacto
com a morte e sabemos sobrepor-nos;
mas alguma vez esperaste um telefonema
que te desse a saber o fim de alguém?

- Ignacio Escuín Borao
(tradução de Manuel de Freitas)
in Telhados de Vidro nº15, Averno

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