quinta-feira, junho 23, 2011

Os Pequenos Alfinetes da Memória

Um fato domingueiro de criança estava preso
Por alfinetes a um manequim de alfaiate
Numa vitrina poeirenta.
A loja parecia fechada há anos.

Perdi-me lá uma vez
Num silêncio de domingo,
À luz de domingo à tarde,
Numa rua de edifícios de tijolo.

Olha qu’esta!,
Disse para ninguém.
Olha qu’esta!,
Disse-o outra vez hoje ao acordar.

Aquela rua prolongava-se indefinidamente,
E todo o caminho senti os alfinetes
Nas costas, a picar-me
O escuro pano pesado.

- Charles Simic
(tradução de Hugo Pinto Santos)
in Selected Poems1963-2003, Faber and Faber (2004)

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