Passa-se o mesmo convosco?
No preciso momento em que me preparo para ferrar o dente no númeno,
Vem uma antiga namorada para me distrair.
«Ela nem sequer está viva!», grito aos céus.
A luz invernal põe-me a caminho.
Vi camas cobertas de mantas igualmente cinzentas.
E homens sombrios a segurar uma mulher nua
Enquanto a molhavam à mangueira com água fria.
Seria para lhe acalmar os nervos, ou seria castigo?
Fui visitar o meu amigo Bob, que me disse:
«Chegamos ao real transpondo a sedução das imagens.»
Eu rejubilei, até que me apercebi:
Esta abstinência não seria possível para mim.
Dei por mim a olhar pela janela.
O pai do Bob estava a passear o cão.
Mexia-se com dores; o cão esperava por ele.
Não havia mais ninguém no parque,
Só árvores com uma infinidade de formas trágicas
Para dificultar a vida ao pensamento.
- Charles Simic
(tradução de Hugo Pinto Santos)
in Selected Poems1963-2003, Faber and Faber (2004)
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