quinta-feira, junho 23, 2011

Morgue

Ali jazem em ordem como se
à espera de algum ato tardio
que os pudesse ligar entre si e
reconciliá-los com aquele frio;

tudo está por enquanto inacabado.
Por que, dentro dos bolsos, um cartão
com o nome de cada? O ar de enfado
nas suas bocas, foi esforço vão

tentar lavá-lo: só ficou patente.
Mais áspera, a barba ainda nos rostos:
o zelador da morgue tem seus gostos;

nem os de boca aberta lhe dão náuseas.
Com os olhos revirados sob as pálpebras,
os mortos vêem-se agora interiormente.

- Rainer Maria Rilke
(tradução de José Paulo Paes)
in Poemas, Companhia das Letras

1 comentário:

Hera disse...

Sublime!