sexta-feira, junho 03, 2011

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[...] Na mobilização geral pelo traba­lho, reforça-se uma evidência que seria, pelo contrário, necessário abolir: a de que não há outra maneira de existir senão trabalhando. De tal modo que trabalhar, hoje, corresponde menos a uma necessidade económica de produ­zir mercadorias do que a uma necessi­dade política de produzir produtores e consumidores. A produção tornou-se sem objeto. A figura de Bartleby, o escrivão de Melville que respondia às ordens para trabalhar com a fórmula "I would prefer not to", poderia servir de inspiração para desativar o sistema laborioso que suscita tanta mobilização: dos que o defendem para que nada se passe e dos que o atacam por ele se ter tornado tão exclusivo. E se, em vez da mobilização total com a qual se glorifi­ca o trabalhador, que foi uma figura tanto do fascismo como do comunismo, o novo exército de não-trabalhadores recusasse assumir-se como multidão de desempregados e em vez de reivindicar o impossível gritasse em todas as pra­ças "I would prefer not to"?

António Guerreiro, Expresso, 3 de Junho de 2011
(retirado daqui)

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