Em Pompeia, entre outros corpos petrificados pela lava e as cinzas da erupção do Vesúvio (ano 79), estão conservados os de um homem e uma mulher no acto amoroso.
Despimo-nos tão furiosamente
a ponto de perdemos o sexo
debaixo da cama,
despimo-nos tanto
que as moscas jurariam
que estávamos mortos.
Despi-te por dentro
entrei-te tão fundo
que se extraviou o meu orgasmo.
Despimo-nos tão furiosamente
que cheirávamos a queimado,
e cem vezes a lava
voltou para esconder-nos.
II
Fizeste-me um dano tal
com tua boca, teus dedos,
fazias-me saltar tão alto
que eu era o teu estandarte
mesmo não havendo vento.
Despiste-me tão furiosamente
que pronunciei o meu nome
e doeu-me a língua,
doeu-me a idade.
Despimo-nos tão furiosamente
que os deuses tremeram,
e cem vezes mandaram
as lavas esconder-nos.
III
Esfregavas tão rápido
os seios que por duas vezes
caí nos seus remoinhos,
mexias lentamente o cu,
bem alto, fustigando-me
na sua negra emboscada,
seu perene meio-dia.
Abrias tanto a sua história,
já gritava o seu naufrágio...
Despimo-nos tão furiosamente
que não nos conhecíamos,
que os deuses mandaram
a lava reinventar-nos.
IV
Desmenti-te de cabo
a rabo devolvendo-te
aos teus primeiros actos,
perscrutei-te profundamente
até escutar a história
amarga do teu corpo,
pois só o amor sabe
como chegar tão fundo
sem violar o sangue.
Esta noite a lava
transformou a paisagem em pedra.
Tu e eu fomos a única coisa
que realmente morreu.
- Fabio Morábito
in La ola que regressa (poesia reunida)
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