quinta-feira, setembro 23, 2010

Emigrantes

Longe morrem os tios,
entre nós o Atlântico,
os primos envelhecem.
Desde há anos
não nos enviamos outras fotos
que não as dos nossos filhos.
Já nada temos a dizer-nos.
Que enorme borracha
se fez o oceano,
mais verdadeiro
que todas as promessas.
Agora, se escrevesse,
escreveria aos que já morreram:
a Ettore, por exemplo,
ou ao meu tio Roberto;
tornaram-se os meus parentes
mais chegados,
tornaram-se transparentes.
Talvez esteja à espera
que os outros morram
para amá-los,
para entendê-los,
para dizer
atravessei finalmente o Atlântico.

- Fabio Morábito
in La ola que regressa (poesia reunida)

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