quinta-feira, setembro 23, 2010

Ao fundo da noite

O ar está gelado.
Mesmo o rouxinol guarda silêncio.
Com a testa apoiada no vidro
peço perdão às minhas duas filhas mortas
porque quase já nunca penso nelas.
O tempo vai-se, deixando sobre a cicatriz
a sua poeirenta argila, e mesmo quando
se ama alguém, só nos resta o esquecimento.
A dureza desta luz é a da água
que com o degelo goteja nos ciprestes.
Coloco um tronco, removo as cinzas,
volta a surgir a chama entre as brasas.
Quando sirvo o café,
a vossa mãe, desde o quarto,
sorri com a sua voz: Que cheiro bom.
Levantaste-te muito cedo esta manhã.

- Joan Margarit
in Joana, Hiperión

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