Eu andava sempre pelos pomares
Na hora do calor.
Não fazia sentido incomodar-me com o sol radioso
Que criava as laranjas
E amadurecia
O musgo do tanque.
A minha avó não gostava de ver-me ao sol.
Primava pela sua brancura
Por pequenas vaidades
Como ter uma cesta farta de frutos
Em cima de uma mesa,
E o seu cuidado
Amadurecendo os pêssegos
Criados com bicho.
Eu tinha - até ao dia de ir para a praia -
Um bronze invejável
De braços escuros e tronco branco
(e essa brancura já não se esconde,
deixei de ter vergonha
de aparecer junto ao mar
cheirando a pomares).
A minha avó tinha razão:
Hoje dispo-me
E não é com o sol que partilho a minha cor,
Mas com os dias
Que já não queimam, como dantes.
E se não tenho o mesmo bronze
É por vergonha de um tempo assim,
Comunitário
Que encheu de ervas
Este pequeno
Paraíso.
1 comentário:
Muito bonito!
~CC~
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