segunda-feira, abril 12, 2010

Da paixão cansei-me (pode acolher tanta morte um corpo, esse mesmo que brilha à luz do desejo, esse mesmo que guarda a promessa da alegria). A verdade gastou-se (isto é o mais fácil de compreender: a verdade gasta-se, quando chegamos ao lugar de a encontrar, sabemos por fim que não existe). Sobrou o que sou e o que não sou também, pelo meio a linha de uma estreita solidão, e é isto que te dou (isto o que te posso dar). Só aqui, só agora, este sorriso de estar vivo, e por vezes o cansaço (que embora não pareça faz parte do sorriso). E agora já me entendes? E agora ainda me queres?

Jorge Roque
Telhados de Vidro, n.º 13, Averno, Lisboa, 2009.

1 comentário:

Cristina Gomes da Silva disse...

Quem poderá não querer tamanha sinceridade? Muito bonito