segunda-feira, janeiro 04, 2010

Hoje, o autor chega aos setenta e três,
idade a que o seu pai, despertado de noite
por uma pressão no peito, quase chegou.
Ainda assim, vou escrevendo. A minha mão
direita ocupa-me o centro da visão, velha besta
de cinco dedos e trabalho fiel, salpicada
de manchas psoriáticas, que eu antes odiava,
agora manchas dos estragos que a secura

do sol roubou à minha derme, ano após ano.
A besta está seca e malhada, a pele a descascar-se
à medida que os minutos tombam da vida, pedaço
de teimosa fealdade, os labores destinados a esculpir
beleza na linguagem, essa beleza que se eleva
da carne e encontra o seu lugar na letra impressa.

- John Updike
(tradução de Ana Luísa Amaral)

Sem comentários: