sexta-feira, outubro 09, 2009

“(…) quem acusa este tipo de poesia de não se afastar suficientemente do imediato, de se moldar pela banalidade da vida quotidiana, esquece-se muitas vezes que, neste caso, o golpe da magia poética, quando é conseguido, consiste precisamente em interromper aquilo que está diante dos nossos olhos, em provocar um acto de estranhamento que faz com que apareça como uma forma de experiência aquilo que estava escondido na repetição banal. Esta interrupção, que é um estado de excepção na regra da quotidianidade, revela as asperezas que o hábito tinha alisado. Este quotidiano reclama a descoberta, a invenção, a construção. Desvelar-lhe o rosto é sempre mais difícil do que parece e significa descobrir o significado trágico do presente que não temos o direito de desprezar. Movemo-nos aqui num terreno onde, ao contrário do que alguns pensam, nem todos os gatos são pardos, onde continuam a ser facilmente reconhecíveis as mais fortes produções da poesia. Não esqueçamos que foi também no seio da realidade mais trivial que Baudelaire produziu um novo «heroísmo», ligado a uma radicalidade crítica perante o presente. Se tivéssemos de remeter estes novos poetas portugueses para uma disciplina do saber, diríamos que grande parte deles estão mais do lado da sociologia do que da linguística ou da filosofia.”

- António Guerreiro, in Relâmpago n.º12, sobre “Alguns aspectos da poesia contemporânea”

4 comentários:

João Moita disse...

Sociologia... Boa piada logo pela manhã. Há também quem lhe chame jornalismo, mas sociologia também não está mal. Do ramo das «pseudo-ciências» (como diria Foucault), é sem dúvida a mais profícua.

Diogo Vaz Pinto disse...

Ó unicórnio não percas mais tempo, vai lá escrever os teus poemas que o mundo já não passa sem eles, e deixa este espaço que evidentemente não tem interesse para ti.

João Moita disse...

Com certeza senhor advogado. Simplesmente a minha inteligência é pródiga o suficiente para perceber que este post não é inocente. Vai lá então fazer mais uma das tuas reportagens em verso (pouco ecológicas, diga-se, porque as árvores são poucas e a prosa sempre economiza.)

Diogo Vaz Pinto disse...

Realmente, inocência aqui só a tua, mas deixa-te lá destes comentários de mosquinha e vai lá ler Foucault ou assim.