
Pela primeira vez desde que iniciei esta rúbrica vou embirrar com um filme português que não é do João Mário Grilo (mas bem que podia ser). A coisa é mais ou menos assim:
Fui ontem à apresentação dum romance e a certo momento falou-se de lentidão e indecisão. Segundo entendi - já que ainda não li o livro - esses dois aspectos devem ser vistos como algo de positivo no romance. Não discuto isso e, aliás, pelo que foi dito por quem apresentou o livro e pelo autor, desconfio que têm toda a razão.
Já andava há uns dias para escrever sobre este filme - que revi recentemente - porque sempre me pareceu que havia algo de tolo nele. Contudo, nunca tinha tido bem a certeza sobre o que seria, para além da estupidez óbvia que a mera ideia do filme já nos vai sugerindo. Isto é simples: nada naquele filme prometia grande coisa e, pelo menos aqui, o António-Pedro Vasconcelos é um dos meus realizadores preferidos, já que não me dá a mínima hipótese de o elogiar.
Ao chegar a casa, depois da apresentação do tal romance, fez-se luz. A lentidão e a indecisão são, ao contrário do que se passa com aquele livro, a razão do grandioso acidente rodoviário com vítimas mortais e pernas separadas do corpo que este filme é. Começo a explicação pela indecisão.
Nunca ao longo do filme o realizador se entende quanto à história que nos quer contar. O problema nem sequer vem da constante interacção entre presente, passado recente e passado longínquo. O que se passa é que aquilo que nos é contado em cada um desses tempos só com uma elasticidade mental comparável à abertura de pernas da Nadia Comaneci é que quer dizer alguma coisa. Drama da guerra colonial, traições, pátria, desespero, aborrecimento, paranóia do século XX, está lá tudo, mas da forma mais atabalhoada e forçada possível, pondo à prova as nossas certezas sobre os limites da estupidez.
Mas deixem-me copiar para aqui a sinopse do filme: Todos os anos, quatro ex-comandos combinam juntar-se, na companhia de quatro mulheres para comemorar os feitos de guerra e solidificar o espírito de grupo. Naquele verão de 1985, fartos da 'pasmaceira do país', decidem assaltar um banco. Joaquim Malarranha, um inspector da Judiciária em vésperas de se reformar, vai cruzar-se no seu caminho e, por ironia do destino, acaba a tocar guitarra na casa de fados de um deles. Um filme de polícias e ladrões, de heróis desempregados ou à beira da reforma, de sobreviventes e inadaptados.
Ou seja, temos uma espécie de Born on the Forth of July meets chavascal meets Beverly Hills Cop meets Heat meets Nicolau Breyner meets Small Time Crooks, tudo muito bem colado com cuspo.
Entre drama de guerra, filme de acção, policial, italo-western (spagetti western para quem não leu Homero), comédia indie e tolice, o filme oscila como os peitos da Marisa Cruz numa publicidade de que já só eu e o filho do João Vieira Pinto nos devemos lembrar.
Quanto à lentidão, apenas vos digo que conheço um gajo cinéfilo que comprou o filme em dvd e o pôs em forward velocidade 1,5 e até nem o achou mau. Consta também que o David Lynch viu o filme em reverse e o comparou a um Godard período azul.
Fui ontem à apresentação dum romance e a certo momento falou-se de lentidão e indecisão. Segundo entendi - já que ainda não li o livro - esses dois aspectos devem ser vistos como algo de positivo no romance. Não discuto isso e, aliás, pelo que foi dito por quem apresentou o livro e pelo autor, desconfio que têm toda a razão.
Já andava há uns dias para escrever sobre este filme - que revi recentemente - porque sempre me pareceu que havia algo de tolo nele. Contudo, nunca tinha tido bem a certeza sobre o que seria, para além da estupidez óbvia que a mera ideia do filme já nos vai sugerindo. Isto é simples: nada naquele filme prometia grande coisa e, pelo menos aqui, o António-Pedro Vasconcelos é um dos meus realizadores preferidos, já que não me dá a mínima hipótese de o elogiar.
Ao chegar a casa, depois da apresentação do tal romance, fez-se luz. A lentidão e a indecisão são, ao contrário do que se passa com aquele livro, a razão do grandioso acidente rodoviário com vítimas mortais e pernas separadas do corpo que este filme é. Começo a explicação pela indecisão.
Nunca ao longo do filme o realizador se entende quanto à história que nos quer contar. O problema nem sequer vem da constante interacção entre presente, passado recente e passado longínquo. O que se passa é que aquilo que nos é contado em cada um desses tempos só com uma elasticidade mental comparável à abertura de pernas da Nadia Comaneci é que quer dizer alguma coisa. Drama da guerra colonial, traições, pátria, desespero, aborrecimento, paranóia do século XX, está lá tudo, mas da forma mais atabalhoada e forçada possível, pondo à prova as nossas certezas sobre os limites da estupidez.
Mas deixem-me copiar para aqui a sinopse do filme: Todos os anos, quatro ex-comandos combinam juntar-se, na companhia de quatro mulheres para comemorar os feitos de guerra e solidificar o espírito de grupo. Naquele verão de 1985, fartos da 'pasmaceira do país', decidem assaltar um banco. Joaquim Malarranha, um inspector da Judiciária em vésperas de se reformar, vai cruzar-se no seu caminho e, por ironia do destino, acaba a tocar guitarra na casa de fados de um deles. Um filme de polícias e ladrões, de heróis desempregados ou à beira da reforma, de sobreviventes e inadaptados.
Ou seja, temos uma espécie de Born on the Forth of July meets chavascal meets Beverly Hills Cop meets Heat meets Nicolau Breyner meets Small Time Crooks, tudo muito bem colado com cuspo.
Entre drama de guerra, filme de acção, policial, italo-western (spagetti western para quem não leu Homero), comédia indie e tolice, o filme oscila como os peitos da Marisa Cruz numa publicidade de que já só eu e o filho do João Vieira Pinto nos devemos lembrar.
Quanto à lentidão, apenas vos digo que conheço um gajo cinéfilo que comprou o filme em dvd e o pôs em forward velocidade 1,5 e até nem o achou mau. Consta também que o David Lynch viu o filme em reverse e o comparou a um Godard período azul.
Para o fim deixo dois apontamentos:
Não sei quem escreveu os diálogos mas cheira-me que deve ter sido o irmão sem talento do argumentista dos Morangos com Açúcar ou o primo com sindrome de Tourette do argumentista do Call Girl.
Também reparei com agrado que este foi o filme que deu início a uma tendência actual do cinema português que envolve gajas e tiros e que é ter sempre um papel para o Nicolau Breyner. Nos anos 80 e 90 eram as séries de comédia brejeiras e estúpidas que tinham sempre um papel para o Nico. Do Nico d'Obra até isto, a evolução é de aplaudir.
P.S. É impressão minha ou o Joaquim de Almeida convence melhor como traficante de droga sul-americano ou ditadorzeco sul-americano do que como gajo português?
P.P.S. Para os mais distraídos, Nico d'Obra não é um filme sobre a falecidade estrela dos Velvet Underground a tentar posições sexuais impossíveis, mas uma espécie de Friends e How I Met Your Mother com taxistas portugueses na qual entrava o Nicolau. Curiosamente, esta série inspirou o título do argumento dum filme que escrevi há uns meses chamado Bico d'Obra e que pretende ser uma fusão arriscada entre o mundo da pornografia e o dos serventes de pedreiro.
3 comentários:
"pss" como em "post scriptum scriptum"?
boca foleira! E tudo porque não disse que pensei em ti para estrela do Bico d'Obra.
Mas com essa leitura tão pormenorizada dos textos, conheço um senhor que gostaria de te ter como ajudante. Ora aqui o tens:
http://img.dailymail.co.uk/i/pix/2007/09_03/stalinDM2109_468x551.jpg
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