Herberto Helder
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
A cair no meu tempo.
Longos bordados de luz: histéricos, por não serem mortais
Como o meu corpo,
Baptismais,
Por não serem mais cruéis que o meu ofício.
Eles devem repetir-se, explodir mais demoradamente
Nos meus olhos,
Na vista rebentada até ao caos.
Rastos de sangue, gigantes pensamentos de crianças breves,
Cargas tremendas de alegria pura.
Cometas
Eu quero-os a cair sobre o teu tejadilho a céu aberto
E em simultâneo
Em camas, templos, hospitais,
Como massas justas, como segredos virgens,
Derrames consagrados ao amor
Da primeira costela à última lágrima.
Como pingos de deus sobre
O meu nome.
- Armando Silva Carvalho
1 comentário:
bom ano, Diogo.
Enviar um comentário