No ano primeiro do fim da melancolia
enquanto os dias e as noites se devoram
é por mim que escrevem os aviadores
com a minha letra solitária
sobre a multidão no deserto
podem ler quando eu passo
despido de trevas
é a caligrafia da serpente
das praias do tempo da minha infância
onde amanhece
quando faço o gesto de matar
posso mandar os meus aviadores escrever
quando passarem sobre os Pirenéus
ao lado da fome da multidão no deserto
no avião mais alto __que vai explodir
voa a minha angústia
podem ver
na linha do horizonte
uma asa de sangue contra o rosto
a minha máscara de amante
de bruços sobre a terra
sou eu à espera dos meus aviadores
- António José Forte
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