segunda-feira, janeiro 28, 2008

Os meus aviadores

No ano primeiro do fim da melancolia
enquanto os dias e as noites se devoram
é por mim que escrevem os aviadores
com a minha letra solitária
sobre a multidão no deserto

podem ler quando eu passo
despido de trevas

é a caligrafia da serpente
das praias do tempo da minha infância
onde amanhece
quando faço o gesto de matar

posso mandar os meus aviadores escrever
quando passarem sobre os Pirenéus
ao lado da fome da multidão no deserto

no avião mais alto __que vai explodir
voa a minha angústia

podem ver
na linha do horizonte
uma asa de sangue contra o rosto
a minha máscara de amante
de bruços sobre a terra

sou eu à espera dos meus aviadores

- António José Forte

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