Para trás ficámos nós, destroços
de paixões que afinal não eram
assim tão impermeáveis. Apontamos
em verso os lugares onde esperamos
recuperando o desuso de palavras
a que nos afeiçoámos e apagamos
aos poucos algumas mensagens de sms
enquanto fazemos os possíveis, e
um pouco mais que isso, por nos evitarmos
a nós mesmos, desinfectando as memórias
com aguardente.
Entregamos a vida aos passatempos,
uma rendição completa da nossa inteligência,
tudo para que o inimigo tenha misericórdia
e não continue a atingir-nos onde mais dói.
Às vezes, contudo, são as nossas mãos
enferrujadas como velhas tesouras
que repuxam a dor, rasgando desajeitadamente
a fímbria desse vestido azul que retém ainda
um perfume de mulher.
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