sexta-feira, janeiro 25, 2008

Ode

Como um girassol __a ideia
letra a letra nos dentes do poeta
e ziguezaguear cintilante
até ao fim do mundo dos meus olhos
onde o teu nome canta __ó rosácea dos cegos
voz do suicida no túnel nos ouvidos.

Como um icebergue __devagar florindo
no horizonte trémulo de púrpura
e peixes doidos de ouro
nas mãos dos assassinos nus
à hora do abismo
ó bússola dos ébrios __puta dos impotentes

Flor desfolhada no Evereste
bem-me-quer malmequer alucinado
no labirinto ardente das insónias
ó rosa das horas brancas
asa secreta contra o peito
muito alto __no avião da morte

Lâmpada negra suspensa no deserto
uivante entre as pupilas e __alta
até à via láctea surreal
agora e na hora dos massacres
cidade ou estrela __ó baleia branca
no mar de navios sem capitães

Rosto para sempre adolescente
no relógio das horas violentas
na câmara escura
onde o meu nome deve ser lido aos gritos
cantando na garganta dos lobos
ó furor __anel de versos doidos

Porta na memória das sereias
para o mistério de ilhas encantadas
no princípio do mundo
aberta como quem abre os pulsos
ou empurrada pelas lágrimas
pela pólvora __ó ranger de dentes podres

Única __sem céu e sem inferno
sem fim nos olhos dos amantes
na noite sem fim
de mãos entrelaçada
só fatal __maravilhosamente
como um icebergue __como um girassol


- António José Forte

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