sexta-feira, janeiro 25, 2008

Central da Praça das Flores

Falava de incêndios e de lugares
perdidos, dessas trovoadas
que só acontecem na infância
e nos perseguem depois
uma vida inteira. Estamos
em Julho, nunca fez tanto calor.

Não, corrige Benilde,
"Estamos num velório,
andam aí as moscas a dançar".
Nesta taberna, volto a perceber,
o poeta fica por detrás do balcão
e oferece-me num largo sorriso
cansadas, certeiras palavras:

"Sou um ser vivo e humano.
Até os vermes são vivos".
- Que lhes aproveite, Dona
Benilde, a nossa morte,
estas tardes que prefiro a tudo

e a sombra, o manso prodígio da sombra.

- Manuel de Freitas

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