sexta-feira, janeiro 25, 2008

A meio de um filme, a contar para os óscares, quando o vilão se prepara
para matar os pais daquele que será o nosso herói, acontece súbito algo inesperado
as legendas do forçoso inglês assaltam o miasma das luzes e sombras
levando à decomposição de cada imagem,
uma revolucionária e imprevisível técnica, a obra
crescendo uma consciência uma vontade insubmissa
sem aviso redime-se
um louco atravessa a dimensão surreal uiva morde a bobina,
um genial escritor que nasce e começa a reescrever em tempo real
o guião, redefine a maniqueísta moralidade da história que
agora se perverte, se redescobre
para contar uma outra espécie de verdade

chama as pessoas na audiência pelo nome, recrutando-as
como actores, sem exigências de casting, elas levantam-se dos lugares
sem porquê nem mas nem senão ou reservas, simplesmente levantam-se
e anulando a marginalidade onde entorpece e se anula
o espectador sem papel sem falas, sem personagem ou carácter,
assumem finalmente uma personalidade - o escritor furioso
conduz o delírio - naquele momento o mundo existe
naquela sala renasce das cinzas o mito do ser humano

sem algazarra nem excessiva euforia, quando a sessão termina
saem de forma ordeira e silenciosa, inspirados
o escritor distribui por todos um mapa
e nessa noite nenhum deles dorme em casa.

Sem comentários: