quinta-feira, janeiro 31, 2008

Bar Alto

Quem acreditará comigo na improvável
canção que a todos espera?
Findara a noite.
E não era uma questão de geometria,
de averiguar em cada gesto
a espessura da cor, a sua perda.
Macio, porém, o vinho
que nos prolongava a voz: Douro,
um Lello sem escadas subido
(só tu, meu amigo, perceberás estes versos).

Deixei cair o guardanapo, o atilho
breve do sapato, um boné
próximo de Morandi. Tutto velo,
dizia o caderno, pão com citrino
ao lado, em tamanho mínimo.
E esse enigma, a negro;
talvez apenas o lápis do acaso,
capaz ainda de traçar a rota
dos bares, as consequências do fim,
o bordel onde nos espera Deus.

Como se bebe aqui?
Lembrei-me então de Silver Jews,
o disco que não mostrei nem ouvi,
e que certamente não despertaria
a estima do filho primogénito de Bach.
Enquanto na mesa ao lado falavam
de futebol e de futebol. Morrerão,
como nós, sob ameaça de "olhar limpo".

As coisas deste mundo? Prefiro falar
do precipício concreto
de um abraço.

- Manuel de Freitas

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