terça-feira, junho 12, 2007

Filosofia dos vegetais

Viver com gozo é uma forma elevada de exercício artístico. É constante e profunda, permite erros mas depois exige correcções.
Noto que alguns escritores, pensadores, poetas etc., são muito elaborados no que diz respeito às artes secundárias e chegam ao ponto de quase as dissociarem do nosso principal objectivo, vivermos com gozo para cada dia.
O próprio Fernando Pessoa que é um mega-poeta é também uma hortaliça do caraças, é couve, é nabo...
Aproveitam a inteligência mal ao ponto de justificarem a morte em vida. Dizem asneiras que justificam valores da vida abstémia, a vida seca, desapaixonada, desinteressada... tudo para evitar sofrimentos. Para evitarem as coisas difíceis e dolorosas tornam-se uns defensores da descarga, uns budistas da treta...
A morte há-de chegar a todos e é preciso ter calma. Uma pessoa que desiste da vida e se convence que vale mais a pena não pensar, não sentir, rejeitar as características da nossa individualidade e de certa forma chegar a um estado do não ser, anda a ver se leva com um raio nos cornos - isto é demência pura.
Sei que muitos poetas se tornam poetas não como aqueles meninos que querem e conseguem ser astronautas ou os que querem ser médicos, ou músicos. Tornam-se poetas quase por exclusão de partes... Vão-se amputando em solidões que começam a mascarar e depois escrevem versos afiados que serram aos poucos a dignidade da vida e da sua experiência. Quando desejam alguma coisa essa coisa está sempre longe demais e não vale a pena mais que cansar o desejo num poema. São estetas da morte.
Eu não tenho muita paciência para as merdas do Álvaro de Campos e sei que ele é um estupendo poeta, tem alguns dos versos que mais me impressionaram pela qualidade literária, partilha um pessimismo de excelência com o Bernardo Soares nos seus magníficos desassossegos prosaicos, mas no fim de contas que textos e poemas são esses, para que servem? Que esforços são estes que nunca fizeram corar uma menina, que não a fizeram render-se nem entregar-se.
Sejamos práticos, o que o Nando precisava era de passar umas férias com o Bocage. Teríamos hoje a poesia da vida, seria mais difícil ser-se triste em Portugal.
Parece que o Nando um dia sacou à força, contra um móvel lá do escritório, um beijo trapalhão à Ofélia... Aposto que até a magoou. O génio não sabia beijar. Foda-se, um gajo que nunca soube beijar uma mulher e que provavelmente morreu virgem é o maior poeta português! Alguma coisa está mal no meio disto tudo. Eu prefiria ter morrido todo lixado com doenças vénereas e deixar lágrimas de tristeza sincera nos olhos de alguma menina, mesmo que uma puta, a morrer com quarenta anos e deixar uns poemas que mais tarde viriam a conquistar a alma dos idiotas fingidos que se consolam na grandeza retorcida do maior génio literário de sempre.



A verdade é que a maioria dos poetas desconsolados acabam por reconhecer num ou noutro momento que o que lhes faltava era grelo.
Tornam-se uns vegetais por falta de coragem e ousadia.
Os únicos vegetais que nos interessa cultivar em nós são os tomates. De resto essa poesia das tretas chega a ser uma perda de tempo, uma desculpa demasiado elaborada para uma vida mal vivida...
Temos esta vida e escrevemos para os vivos, por isso insistir na morte é espetar a carroça nos bois. Há tempo para tudo, até para morrer e depois há muito tempo para andar morto, logo se vê se isso tem alguma piada. Para já vamos ao que interessa, escrevam-se coisas úteis, é preciso é andar com boa disposição e saber dar a volta às meninas.



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"A arte baseia-se na vida, porém não como matéria mas como forma. Sendo a arte um produto directo do pensamento, é do pensamento que se serve como matéria; a forma vai buscá-la à vida. A obra de arte é um pensamento tornado vida: um desejo realizado de si-mesmo. Como realizado tem que usar a forma da vida, que é essencialmente a realização; como realizado em si-mesmo tem que tirar de si a matéria em que realiza."

- Fernando Pessoa

4 comentários:

José disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diogo Vaz Pinto disse...

bem, olha este é para ti: http://estadocivil.blogspot.com/2007/06/les-garons-et-les-choses.html

Diogo Vaz Pinto disse...

e

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

- Fernando Pessoa

elouise disse...

Concordo contigo, D.