segunda-feira, junho 25, 2007

Desistências


Com o tempo (espero) o espírito de ânsioso que vive em nós aquieta-se. Começa a fazer sentido aceitar que a sorte é comedida, é cuidadosa, e não se atira sobre nós à toa mas deixa-se despir aos poucos na medida em que aprendemos a acariciá-la.
Um beijo é um beijo. Primeiro dizemos "um beijo", só depois damos um beijo e será na cara, mais tarde, se ela sorrir, talvez na boca...
Mas eu não deixo de me queixar da sorte e às vezes só percebo como isso é estúpido em dias como o de ontem quando é outra pessoa que se queixa dela. Não temos mais do que merecemos. E dificilmente admitimos que só merecemos o que temos, mas se formos não pelo que dizemos a nós próprios mas pelo que a nossa sorte nos diz talvez tenhamos mais chances de aprender alguma coisa. Pode parecer demasiado óbvio dizer que só temos o que temos, mas é assim mesmo, e, o que ainda não o temos é porque não temos. Se queremos uma coisa devemos procurá-la nos lugares onde ela costuma ser vista, é tão simples como isso.

O pior é desistir.

Não sei se já contei esta história aqui mas se já não faz mal, é uma boa história e merece ser repetida...
Numa aula de filosofia a Professora Manu contou uma vez à turma de humanidades, a propósito de qualquer coisa que não me lembro, que havia um lobo daqueles destas histórias que andava pelo bosque esfomeado. Não teve a sorte de apanhar nenhuma avó nem o capuchinho vermelho, nem nada e estava a ficar desesperado quando dá com uma árvore de fruto... Eram uvas, bem grandes, mas (é lixado) estavam demasiado elevadas. O lobo aproxima-se olha para as uvas durante um bocado e finalmente entende que se saltar deverá conseguir apanhá-las.
O lobo salta e salta e salta... e não consegue chegar às uvas.
Cansado pára, fica por um momento difícil a olhar para as uvas... e depois vira as costas e afasta-se dizendo: "Caga, estavam verdes..."

A ideia é muito simples, prende-se com a necessidade que temos de cobrir a nossa desistência desvalorizando aquilo que quisemos e não conseguimos...

Bem e ficamos por aqui, de momento não me lembro de mais nada que deva acrescentar... A não ser que o lobo da Professora Manu nunca diria "caga", isso já foi o meu.

1 comentário:

Filipe Marques da Costa disse...

Quando o lobo vira as costas uma brisa faz com que o cacho caia. Ao ouvir a queda o lobo rapidamente volta para trás e devora as uvas.

Acho que é assim que acaba.