segunda-feira, junho 25, 2007

2 poemas actuais

O Terrorista- ele está a ver

A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
São só treze e dezasseis.
Alguns ainda vão a tempo de entrar;
outros de sair.

O terrorista passou para o outro lado da rua.
A esta distância fica a salvo de todo o mal
e vê tudo como no cinema:

Uma mulher de casaco amarelo - ela entra.
Um homem de óculos escuros - ele sai.
Rapazes de jeans - eles trocam impressões.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
O mais baixo - ele tem sorte, monta na dcooter,
mas o mais alto - ele entra.
Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
Passa uma rapariga de fita verde no cabelo.
De repente, desaparece atrás do autocarro.
Treze e dezoito.
A rapariga já não se vê.
Terá sido estúpida ao ponto de entrar?
Logo se vê, quando retirarem os corpos.

Treze e dezanove.
Ninguém parece querer entrar.
Em contra-partida sai um careca gordo.
Remexe os bolsos como se procurasse algo
e quando faltam dez segundos para as treze e vinte –
ele volta por umas reles luvas que esqueceu.

São treze e vinte.
O tempo, como ele demora.
Está na hora.
Ainda não.
Sim, já está.
A bomba - ela explode.



Fotografia de 11 de Setembro


Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.

A fotografia deteve-os na vida,
preservou-os
sobre a terra rumo à terra.

Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.

Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.

Ainda estão no âmbito do ar,
ao alcance dos lugares
que acabaram de se abrir.

Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.

- Wislawa Szymborska

1 comentário:

David disse...

São dois poemas já velhinhos mas com imensa actualidade. Dum livro dela de capa cor-de-laranja do qual neste momento não me lembro do título mas que é qualquer coisa que mete grão e areia, realço um poema que começa: morrer isso não se faz ao gato.