domingo, julho 02, 2006

Quente e Frio / Sweet and Sour


Imagina que voltaste a ser criança a sentir curiosidade em relação a tudo o que te rodeia. Imagina que estás numa gigantesca divisão e não consegues compreender os seus limites. É uma divisão escura e repleta de uma série de objectos e coisas que nunca viste na tua vida. Imagina que essa divisão é tudo o que existe e que para além de ti há apenas um estranho, que não consegues identificar, mas que parece uma criança como tu.
Agora imagina que esse estranho começa a gritar na tua direcção – “Frio! Frio! Frio!”. Não sabes porquê mas sentes-te muito mal com estes gritos que te são dirigidos, causam-te tristeza e sofrimento. Sempre que o estranho grita a palavra “frio” sentes uma dor forte percorrer-te o corpo, e à medida que isso acontece começas a mover-te e apercebes-te que o desconhecido continua a dizer a mesma palavra mas já não está a gritar. Ainda te sentes mal mas o sofrimento já não é tão doloroso. Percebes que deves mover-te embora não saibas bem porquê.
Ao fim de algum tempo a dares voltas pela enorme divisão chegas a um ponto em que o desconhecido deixa de dizer “Frio” e passa a dizer “Quente”, ele não está a gritar, está a falar calmamente e baixinho, e tu sentes que estás também mais calmo e começas a sentir-te melhor. Às tantas o desconhecido começa a acelerar o ritmo em que repete a palavra “Quente” e ao mesmo tempo di-lo cada vez mais alto. Neste momento tu estás-te a sentir cada vez melhor, estás cada vez mais desperto, alegre e excitado. Continuas a mover-te no sentido que leva o desconhecido a gritar mais e mais alto e neste momento já não estás a andar, estás a correr, e sentes-te maravilhosamente bem, a sensação que tens é óptima, todo o teu corpo parece ser preenchido por uma energia muito forte e positiva.
A certa altura encontras um objecto no chão mesmo à tua frente, sentes-te tomado pela curiosidade e és forçado a baixares-te para apanhá-lo. Ao mesmo tempo o desconhecido que se parece contigo grita histericamente “Quente! Quente! Quente!” e quando tu tens o objecto nas tuas mãos, apercebeste que é um espelho e nesse espelho está reflectida a tua imagem, mas estás diferente, quando te olhas nesse espelho sentes uma emoção tão poderosa que não consegues tirar os olhos da imagem reflectida. Vês a tua cara a fitar-te alegremente e sentes-te profundamente feliz, vês quem és, toda a divisão se ilumina e reconheces o estranho, o estranho és tu e percebes nesse momento que és feliz.

O estranho que nos grita frio ou quente somos nós mesmos, são as nossas emoções e sentimentos face a cada momento das nossas vidas. Essa é a nossa orientação, o nosso estado de espírito. Se nos sentimos mal temos que nos mover, agir até encontrarmos uma situação diferente em que a emoção seja outra.


-Excerto de "O Jogo da Vida"

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