sábado, julho 28, 2018


Deixo um trilho de migalhas pelos corredores às enfermiças aves de cores esbatidas muito quietas nas sebes de renda do papel de parede. Um hálito anda atrás de mim pela casa, as sombras deitam-se como animais aturdidos aos cantos – esgaravatando, mordiscando, urinando. Assobio-lhes – a mim ignoram-me. Faz um calor de merda aqui. Dou-me ainda pior com as palavras que me chegam assim, deixo-as, desisto. Volto por fim da varanda arrastando uma frase inteira. Este castigo suave da tarde com a luz a espreguiçar-se por pátios meio peculiares. No descanso dos caminhos o fogo e o mel, este balanço entre euforia e torpor, pausas selvagens que me engrossam o sangue. Alguns fiapos de nuvem cosem débeis castelos que o sol gosta de assaltar. E por baixo as ruas deixam-se render à bazófia dos putos, aos esquemas e desafios que se lançam. Um bando deles lixou os travões do volvo abandonado junto ao parque. Agora revezam-se: uns no interior os outros a empurrar a velha lata pela estrada fora. Que vontade absurda de ir atrás. E já não tenho a idade para isso. Fico-me pelas esplanadas, os sumos, as bebidas de palhinha e chapéu, letras de canções entarameladas a marcar a francesa cheiinha de sardas que hoje me esporeia a imaginação. Aquela boca rematando vagas exclamações: um clássico do cinema mudo. Depois o sinal doce no ombro, e os joelhos onde vem sentar-se a beleza que me fixa rispidamente como se perguntasse: Queres alguma coisa?

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