segunda-feira, fevereiro 05, 2018

Serve de resposta a este como a outros desses justiceiros do 'estou-me-cagandismo'


Este tem a vantagem de ser um chato convicto. Acha-se um caçador de mitos da crítica literária portuguesa, e, realmente, até levanta algumas questões. Só é pena não passarem de bagatelas, questões de pronúncia. Como vive na realidade do um, como não faz puto de ideia nem lhe interessa o que sucede para lá da sua redoma, nada lhe faz comichão. No fundo, tanto se lhe dá. Ao contrário de ti, creio que ele está perfeitamente contente com a sua situação. O propósito dele é mostrar o vício de alguns raciocínios costumeiros, e nisso terá sempre alguma razão. É verdade que muitas vezes cedemos a um azedume um tanto genérico ao confrontarmo-nos dia sim dia sim com o desinteresse geral pelas obras e autores que nos encantam. É um pouco como estar apaixonado pela noiva-cadáver. É difícil levá-la para o salão onde triunfam as coquetes banhadas nas emulsões de cada estação. Mas prefiro estar deste lado, ser um pouco histérico e absurdo no meu romantismo, até ridículo, a ser uma betoneira literata como este tipo. Sendo tão chato lê-lo, seria igualmente chato tentar responder-lhe. Porque é difícil sentirmo-nos compelidos por um argumento tão sensato, tão "baixem os braços que me estão a atrapalhar a visão periférica". No fundo, temos aqui a avózinha que nos vem dizer que se não temos cuidadinho eventualmente iremos partir uma perna nos saltos que damos de uns telhados para os outros. Mas antes andar com os membros ao ombro, de muletas, o raio, antes isso do que viver de espinha imobilizada, numa cadeira de rodas preventiva. Como árvore de rotunda, dessas que nascem atadas a um pau que lhes dita a direcção. Este tipo é um velhinho com a sua cartilha do bom senso. Agora: é falso o que diz? Não. Tem alguma relevância no que toca a acompanhar os abalos e debilidades próprias de uma época? Também não. É uma espécie de grilo imortal. Há-de ter sempre alguma razão. Mas é aquela razão que não adianta, aquela que nos convida a calarmo-nos e a pensar que, no fim, está tudo bem. Somando e subtraindo, no fim, dá sempre zero, neste tempo ou noutro qualquer. Não há motivos para andarmos para aqui angustiados seja com o que for. Se vires bem, o que subjaz à argumentação dele é qualquer coisa nesta linha: Não sois eternos, portanto, alegrem-se em ser passageiros... ou matem-se. Mas nunca, por nada, deixem que vos aflija a dor de sentirem que o mundo está de costas voltadas para vós, e, pior, que com o passar dos anos ainda mais se distancia.

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