Também ninguém há-de ligar puto a este. Mesmo que seja dos melhores textos publicados num jornal, desgraçado meio, nunca tão maldito, alvo de tão grande desprezo de suas senhorias. Este meio no qual damos o litro assumindo uma condição abaixo da do proletário, sem representação, com um sindicato de badamecos, e com o fruto do nosso trabalho despejado na praça (tradução: dumping), distribuído gratuitamente! Imaginem se esta lógica funcionasse noutros sectores. Imaginem, seus merdas. E os leitores ainda nos vêm todos doutores-juízes, convencidos que ao dispensar uns minutos estão a "patrocinar" a publicação com o seu precioso clique. Nas bordas do penico, onde o meio musguento se alimenta do que salpica, e todos se enchem de ares para repetir que não há crítica literária no país, como se estivessem muito interessados nisso, como se preferissem recuar a um tempo em que quem escrevia, depois de publicar, andava semanas com um iô-iô de calafrios, semanas a tremer e a espiar diariamente as bancas com o receio de que um crítico se lembrasse deles e, ao invés dos salamaleques encomiásticos e vazios que hoje proliferam, lhes enfiasse um biqueiro que os deixasse a andar de lado mais umas semanas. E, assim, por estratégia, hoje, nem que lhes andemos aos chutos na cabeça com a crítica literária acusam a pancada. Já publicam só pelos likes. Duas ou três resenhas apalavradas com os amigos, uma rifa para o cabaz de algum prémio sorteado por uma dessas instituições de caridade literária gerida pelas marias que vão subindo umas pelas outras à espera da sua vez... E contentam-se com as patadinhas nas costas, os lançamentos multi-show-multi-média-junta-quarenta-parvos-em-palco-a-ver-se-vinte-vêm-para-audiência. Twenty Dwarves Took Turns Doing Handstands on the Carpet. E talvez o motivo seja simples: está tudo perfeito assim. Ambiente controlado, esterilizado, as crianças a salvo de todos os perigos, velhinhos idem, rampas para os deficientes motores, rampas sobretudo para os literatos retardados. Um lindo parque de diversões, esta merda. Um carrossel do tamanho do país, só espelhos e a macarena. Todos contentes. Se mexesse estragava. Ide-vos foder.
quarta-feira, dezembro 13, 2017
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1 comentário:
Eu gosto muito dos textos escritos e colocados na etiqueta 'modus operandi',
e, se eu tivesse conhecimento de uma possível edição de um livro que coligisse estes textos, eu faria um esforço por adquiri-lo.
saudações
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