Fazer crítica literária neste país é um pouco como descascar cebolas. Arranca-se-lhes os folhos do vestidinho e por muito meretrizes que sejam vão-se fazendo de ofendidas, e não se sabem defender senão esguichando um sumo em que, quem vê de fora, é levado a pensar que choramos com muita pena delas. No fim, ainda nos deixam um estúpido e persistente cheiro nos dedos, e na cabeça um eco manso tenta vestir-se de remorso, como se das donzelas defenestradas tivesse ficado o soluço em que imploram pelas suas vidas porque têm filhos. Esquecem-se que toda a gente tem filhos, é uma banalidade dessas que só significam o mundo para nós próprios, e que, no fundo, vai permitindo que a parvoíce procrie e se multiplique e todos se queixem das injustiças do mundo, da grande merda que é o meio literário, excepto quando se mete a faca entre as saias e se descose a barriga onde, afinal, nada estava em gestação senão mais uma dessas barganhas com que o futuro se fica por uma extensão do crédito a seres que se vestem de camadas apenas para disfarçar a sua vacuidade.
quarta-feira, dezembro 27, 2017
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