metade solar outra metade
adentrada na noite que divide e reparte irmãmente os dois
pedaços da mesma ideia:
redonda achatada nos pólos insegura no seu tombo
escuridão afora
a cabeça pendular metida entre ombros
sombras
na órbita do absurdo a cumprir a curvatura que lhe cabe
errando distorcendo a silenciosa
nitidez dos hemisférios
mas enfeitada de gázeos, orifícios, rodeada
de visíveis
desprendem-se dela panoramas que flutuam até
muito depois, tortuosos
brincando de se mostrar de se encobrir na açoteia
dos eventos
onde uma língua lambe partículas, intenta locuções
ou a mudez dos vaga-lumes
mas tudo de tudo se afasta
por mais que um braço nosso se retese para o nada
partindo do centro, desalcançando
e o todo se despenhe, móbil
veloz rebobinado, o retroverso inteiro, e vejamos passar
pelo buraco de uma agulha o camelo
do raciocínio
e neva nesta geometria
tanto
resplandece muito como se às mãos um lume
viesse entreter as trevas
estamos assim sobre o rosto da terra
queimando as ervas
enterrando os sinais
inclinando a esfera do pensamento para a água
seguimos por pequenas pistas ano a ano
menos nítidas
o sono alaga submerge com um peso nocturno
o corpo treme de anonimato
é no sossego de um quarto extinto rumoroso
que a nossa esfera abate na mole dos seus fantasmas
o tecto abre ao incêndio celeste
a outra e à única claridade
e nesse vácuo ou abertura nesse
floco de neve ampliado uma magnólia floresce e floresce
a sequóia imensa do mundo recolhe
à potestade
enquanto o lugar das medidas dos medos e das merdas
arrefece na lâmpada do tecto
aquietam-se em ocultas complexidões as ondas
órfãs do disjuntor
frequentam vibrações fabulares exteriores à evidência
declinam
e o adágio em que demoliu a luz
acendeu na respiração profunda dos alvéolos
enquanto uma frágil estrela se acende no azul
para um Percival de olhos fechados
- Miguel-Manso
Vale do Pereiro, Outono de 2015
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