Como Colombo procurando pimenta-do-reino encontra malagueta e dedo-de-moça.
Tudo é bem mais e queima.
E só das índias nasce um índio.
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Mirar o inimigo, mirar o corpo devorado, mirar a carne certa.
Errar o inimigo, errar o corpo devorado, errar a carne certa.
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Sem viveiro pré-fabricado que enlate a vida esparramada e sem sentido.
Sem medo que nos castre ou oriente.
Sem anseio idílico de Europa.
Tudo em tanta parte.
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Dito tupinambá: “Bispo Sardinha não faz jus ao próprio nome”.
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And I miss thee, Anthropophagy, thy many letters in this edible dead language.
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Só me interessa o que não é meu, nem do outro. O que no outro nem dele era.
Achar no fígado de Percy Shelley uma desculpa para o coração.
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Na contraleitura do não-dito.
Até quem sabe o horror silenciado do cotidiano.
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Quem pode devorar o misantropo que nos odeia, pensar em aprendê-lo digerindo, e divergindo
desprendê-lo? Misantropofágico.
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Contra toda prisão de ventre e a retenção de acúmulos bancários.
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Somente a tradução nos salva. Desde que não nos una.
Aponta o rumo da deriva.
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Tupi ou não tupi, tudo em questão.
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Contra o complexo de periferia.
A metrópole morreu: nem aqui nem lá.
Sobre questões de moda, o cinema iraniano informará.
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Yes, nós temos pierogi.
Yes, nós temos distância.
Yes, nós temos geadas.
Yes, nós temos malária.
Yes, nós temos milícias.
Yes, nós temos silêncios.
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MIS — Errar, perder, odiar, tudo é saudade lusitana inencontrável.
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Lalangue comme objet de plaisir.
Essa mesma língua minha que ameaça e oblitera a dos outros.
A mesma que me apaga e arrisca no fascínio dos fascismos.
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Sim, fomos catequizados, mas toda a garotada só pensava em se comer.
Do outro lado da cerca, eliminavam mais rapidamente toda a gente de cor.
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Quando descobriram a felicidade, a gente estava noutra.
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Porque nas migrações todos foram parar no lugar errado, assim errado é que se funda algum lugar.
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Tente no Google.
Tradizer.
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A poética da errática: Rousseau comeu do bom selvagem.
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A alegria é a prova dos nove até segunda ordem.
A divergência é o corolário. Babel feliz.
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No anarcado geral da terra sem mal.
Na alma interessa o que não é alma.
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A serta`o a méret a világon, disse-se online em húngaro.
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A magia e a vida: gritar hocus pocus nos ritos da tribo, sem palavras puras que a redimam
facilmente.
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Life is the art of finding, though there are so many feinds in life.
Life is the art of misreading, though everything is just so ready.
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Só as bibliotecas não nos salvarão.
Contra a ciência especializada e morta: saber também de orelha.
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Entre o livro de rostos procurar sinais de pele.
E sob a pele a marca ainda fresca dos curtumes.
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Contra os gourmets do mundo, uma poética da indigestão.
Zeus engoliu Métis e assim pariu Atena de pela cabeça.
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Tente no Google.
Cinedhíothú.
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Pound comeu chineses de Fenollosa até descobrir a poesia moderna inglesa.
Oswald, do alto do umbigo do mundo parisiense, descobriu deslumbrado a própria terra.
Do centro do país do futuro alguém sonha que explode a ideia de nação.
Toda vez que saio, tudo muda.
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Pelo bug do milênio.
Pelo carnaval que vai cobrir metrópoles de mato e seiva, arrasando a lei do asfalto.
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Comer também tem seu caráter destrutivo.
Hay que llegar la diferonça.
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Mas vale a pena derrubar o Google.
Contraduzir.
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Toda vez que engulo o outro encontro algo em nós que o extrapola.
A contribuição milionária de todos os erros.
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À beira do colapso ambiental, em terra de cego, tentam incorporar Copenhagen em cada cunha.
Este corpo que nunca é teu.
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Fugir para Miami e desembarcar na Serra Leoa — projeto de erro geográfico.
Em toda parte se acharia o nosso fracasso.
- Guilherme Gontijo Flores
retirado daqui
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