para Maria Esther Maciel
Naquele entrecho
mais lento dos
dias, aqui, onde,
não importa o
modo como os pés
pisem as folhas
ao caminhar, o
barulho quebradiço
da sombra deles
(espraiada entre
a calçada e as
pedras-escombros
da casa) bem poderia,
se ouvido por
uma detalhista
como você, ser
chamado de troar,
estouro, estrondo.
NOITE
O menino viu
sair da boca
da mulher, talvez
sua mãe, uma voz
estrídula e lábil, que
logo desandou,
em cadência
de sonho, a quê?
– A enumerar desas-
tres já ocorridos
e por ocorrer,
a fecundar
harpias, a frisar
as marcas
da passagem
da pantera pelo quarto,
a aturdir relógios,
a enegrecer o sol
e outras mais
de tais proezas.
MANHÃ ABERTA
Me infinito, aqui onde começa
a manhã aberta
de azuis, sob o mesmo sol
de sempre que faz sol
em nossa casa.
Alguém canta ao longe,
já não sinto
saudades de nada, outro alguém
luta para dar partida em um carro
velho, um cão dos infernos
late, as formigas ocupam
partes do pão e o vinho de ontem à noite,
estrelas explodem sem que ninguém
perceba, o trânsito
é difícil a esta altura do dia em qualquer
dos dois rumos
que levam ao centro
da cidade, e no entanto
dormes, indiferente a todos
os barulhos deste mundo,
mas não – sei, porque sorris – a
este breve movimento
da minha enorme mão que toca,
com uma desajeitada alegria,
as tuas duas pequenas mãos,
entrecruzadas
sobre teu seio esquerdo.
Estamos vivos.
retirados daqui
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