domingo, fevereiro 14, 2016
Poderei explicar alguma vez
como a minha voz veio a parecer-se
comigo, aquilo que foi preciso,
desde o saber-me sem futuro
nisto como no resto,
alegre e inspirado em chão clássico,
as obras dos velhos
que dão sombra a tudo isto
com o tempo aprende-se
um tipo rouba à própria vida
salva as horas que pode, desvia-as
e o mundo que consegue
um corpo solúvel debaixo
da roupa,
barba crescida, olhos incandescentes,
meio névoa, meio homem
mas o que foi preciso?
ouvíamos o deserto dos anos
adiante, e a vida
[não olhes agora,
está ela a olhar desconfiada...]
meses para ganhar coragem,
medo talvez
permanecemos nesta mesma posição
esperando ordens
cuidadosamente, silenciosamente
sentados nas pontas de um mapa,
atirávamos a moeda
a ensaiar o lucro do erro
tínhamos lido, visto desenhos,
o tempo em que o olhar demora
as fontes, uma água
em cuja pele os astros se detinham,
o iodo e o jasmim milagrosos
jardins sussurrantes
a trovoada longe lá a
mastigar o horizonte, nada de muito
pesado, uma atenção, algo que
soluce como um retrato no corredor
a tarde deitando-se de costas,
os pássaros feitos da substância antiga
dos sonetos
o fogo derrubado
a cinza desperta, ligeira
em ar suave vem à busca dos mortais
o encanto faz-se escuro e solitário
ir indo, caminhando pausadamente,
com um grilo por coração
atraído, arrastado,
cada passo firme na imensidade
o firmamento subindo a pouco e pouco,
tudo meio despegado, as varizes
do universo bem à vista,
uma impressão de toda essa altura
ruindo
Noite das maiores distâncias
– doce e exagerada –
a escuridão destrancada
como um mar seco
farejando as estrelas
por trás da casa
saber nenhum, apenas
a capacidade de guardar silêncio
vivo, prendê-lo
nuns poucos versos
e fabricar a sua beleza
em toda a parte
achá-lo,
fazer dele um caminho certo
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