domingo, janeiro 19, 2014

O Fumo do Meu Cigarro


O Sol morre lá fora
num deslumbramento,
feérico e bizarro…
e o meu olhar vai seguindo
as espirais caprichosas,
e ondulantes,
do fumo do meu cigarro.

Aconchego mais
a seda esmaecida
que me envolve e não me aquece...
E penso em ti,
e na minha vida
tão  partida
e tão diversa!...
Enquanto a fita, cinzenta e leve,
volteia,
se enlaça
e se dispersa!...

E o meu pensamento
vagueia
numa angústia que eu não venço,
oscilando-me
sobre um abismo de incertezas!. .
A noite desce,
desdobrando o seu véu pesado e denso...
E à minha boca cruel
e desdenhosa,
sobe, numa ironia estilizada,
o sabor amargo
e doloroso
duma longínqua posse realizada...
…………………………………………

Que tédio, Senhor, enrola a minha lembrança!
— Nada vem sobressaltar
os meus nervos quietos
e vencidos!
E o meu pensamento
vai seguindo,
obstinadamente,
a vida singular dos meus sentidos!
………………………………………….

Rondas de treva volteiam em redor.
Farta—me aquele ardor
moço e alucinado
que a minha lembrança acordou agora,
nesta sombra esguia
do passado...

Afoga-me a estranha insânia
dum louco desígnio - raro e torturante,..
E fico-me a cismar
na volúpia enfastiada
e nos tédios ruivos
desta hora desolada
e impenitente,
e ante o meu olhar
ensombrado e consciente,
ergueu-se, rácica e impiedosa,
a nostálgica, amorosa
Duquesa de Brabante!...
— essa orquídea altiva e rara
que, numa rebeldia
fidalga e sem remédio,
arrefecia
em horas de extermínio
as horas criminosas do seu tédio!

- Judith Teixeira
retirado daqui

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