
Um dos conceitos que mais preocuparam o homem desde a antiguidade foi o da felicidade. Sobre estes temas escreveram-se ao longo da história incontáveis obras de díspar valor literário, poético e filosófico.
Hoje em dia, e com uma urgência e intensidade cada vez maiores, este tema ocupa a mente de poetas, filósofos, professores, políticos e até mesmo os cientistas estão empenhados em arranjar uma função concreta para este conceito ou integrá-lo na existência humana de forma lógica. Um brilhante cientista espanhol de cujo nome neste exacto momento não me lembro, escreveu um livro fabuloso associando a felicidade à longevidade. Segundo ele, quanto mais felizes somos, mais interesse temos em viver e, portanto, mais vivemos (simplificando muito, é claro).
Mas para muitas pessoas este conceito é tão turvo que nem sequer pode chegar a ser compreendido e muito menos definido por palavras, para outros, sem embargo, é mais familiar.
Para muitos indivíduos, a felicidade não é mais que um lapso fugaz no tempo, algo realmente agradável que nos enche de prazer. Seria por exemplo um delicioso banho quente, uma experiência sexual fantástica, um beijo de uma pessoa querida, o rever um familiar que há muito não víamos, o saber que passamos num exame que dávamos por chumbado... tudo isto, seriam pequenas “felicidades”, momentos fugazes mas cheios de satisfação, uma satisfação tão plena como efêmera, de curta duração. Pois para a maior parte das pessoas felicidade é isto, esses momentos fugazes em que nos sentimos estranha e maravilhosamente “bem!”.
Segundo o ponto de vista de muitas pessoas não cabe dizer nada mais sobre felicidade que isto, pois felicidade são esses momentos, nada mais, nada menos, segundo a sua concepção da mesma.
Talvez esta visão esteja actualmente bastante difundida, talvez seja mesmo a visão predominante, mas certamente não é a única possível.
Não posso negar que é extremamente contundente, esta alegria fantástica irrefreável é uma realidade inegável vivida por todas as pessoas ao menos uma vez na sua vida, esta alegria tão intensa, mas igualmente fugaz que não dura mais que umas quantas horas como máximo. Creio que, embora seja um conceito muito abstracto, ninguém pode, por mais que queira, negar que a felicidade existe, mesmo que represente unicamente um adjectivo a esses maravilhosos momentos tão raros, mas tão preciosos que todos, com maior ou menor frequência, temos a oportunidade de desfrutar.
Esta definição de felicidade é extremamente bem sucedida porque quase todas as pessoas entendem o significado dessas palavras já que reconhecem esses momentos de grande alegria efémera e sabe como podem ser completos e acolhedores quando tudo o resto parece negro. Mas esta não é, a meu ver, a melhor definição de felicidade, não é a mais completa e não é a mais antiga. É demasiado simplista para poder ser certa, exata e é, também, absolutamente inútil. Segundo esta concepção da mesma, a felicidade é simplesmente o conjunto de bons momentos que passamos na nossa vida e nada mais. Realmente não há muito mais a dizer além isto, e isto, não nos dá lá grandes pistas para melhorarmos a nossa vida. Afinal, a verdade é que ninguém sabe como encontrar nem sequer exatamente como buscar esses momentos de glória e frequentemente, esses momentos, quando não chegam de forma espontânea, não costumam possuir a mesma intensidade.
Tentemos, portanto, outra concepção de felicidade e veremos se podemos chegar mais perto de alguma pista que nos ajude a melhorar as nossas vidas com base em um conceito esclarecedor, útil e completo de felicidade. Estou certo que muitos de vocês já ouviram falar da corrente filosófica hedonística.O hedonismo nasceu no seio da antiga filosofia grega.
É uma espécie de oposto do mais popular, por um simples fenómeno linguístico, estoicismo. Os estóicos viam o significado da vida na dor, no sofrimento, da mesma forma que a religião budista também está ancorada no sofrimento e na aceitação.
A filosofia hedonista, por outro lado, pregava que o sentido da vida se encontrava na felicidade. Esta idéia, de quase 3000 anos de antiguidade é hoje mais actual que nunca. É também, para mim, o conceito de felicidade mais satisfatório alguma vez criado, felicidade como a finalidade da vida. Felicidade aqui deve ser entendida de forma ampla, ao contrário do que acontece quando damos a definição de felicidade como um conjunto de momentos de grande satisfação, um conjunto de prazeres. Nesse caso teríamos que entender o conceito de felicidade de forma estrita.
A felicidade, entendida de forma ampla, é uma espécie de culminação.
O estar feliz é o culminar de um caminho percorrido para atingir um determinado objectivo.
Quando pergunto ás pessoas, de forma algo ingénua, “é feliz?”, sei, de antemão, que provavelmente nem sequer compreenderão a minha pergunta, pela simples razão de que a maioria das pessoas não entende o meu conceito de felicidade..., ou, dito de outro modo, a minha pergunta será interpretada segundo o conceito de felicidade particular dessa pessoa, que não é exactamente o meu.
Para mim, se me perguntam se sou feliz, seria como se me perguntassem “Estás a percorrer o teu caminho?”, ou, melhor ainda “estás a levar a tua vida para o desfecho que pretendes?”
A felicidade não é um orgasmo, não se resume ao prazer e se distancia muito dele. Enquanto segundo a definição de felicidade como um momento de grande satisfação ou conjunto desses momentos, dificilmente se pode distinguir a ideia de prazer, a minha definição de felicidade, como momento culminante, nada ou pouco tem a ver com prazer.
Como muitas pessoas distribuídas por todo o mundo, não há um dia em que não me pergunte qual é o significado da minha vida. Preciso saber que a minha vida tem um significado, não importa qual, mas preciso que tenha um significado. Talvez por isso, dentro da minha filosofia de vida, a felicidade cobra tanta importância. Viver sem pensar em ser feliz para mim não tem o menor sentido, pela simples razão de que eu concebo a felicidade como o fim último da vida. Como os hedonistas, vivo para ser feliz. E a felicidade, neste contexto, não pode permitir-se a ser tão fútil como um orgasmo ou um banho quente depois de uma hora de ginásio ao fim do dia. A felicidade é algo imensamente maior e imensamente menos egoísta e efémero.
A felicidade que eu concebo, embora não deixe de ser em essência culminação, poderia prolongar-se 30 anos, pois quanto mais plena e profunda, mais longa pode ser a felicidade.
A minha felicidade é consequência do adestramento.
Vivo para ser um melhor homem amanhã do que aquele que sou hoje!
Isto poderia ser o título de algum livro supérfluo de auto-ajuda, mas neste caso é o lema da minha vida. Esse é o objectivo da minha vida, e como tal, essa é a única possível definição de felicidade para mim. Não digo que é a melhor do mundo, muito menos a única, mas é, indiscutivelmente, a minha definição de felicidade.
Estou condenado a conceber a vida como uma constante evolução, um grande caminho que devemos percorrer até á... purificação... até ao nirvana .... ou até à iluminação e uma série de outros termos, maioritariamente orientais, que poderia utilizar.
A vida é, portanto, um constante adestramento, e a felicidade é a consequência do adestramento.
Mas independentemente de filosofias japonesas, chinesas ou gregas, reflecti sobre o conceito de felicidade, pois pode assumir inúmeras formas e é geralmente um guia infalível rumo ao sucesso global no grande jogo da vida.
Independentemente das palavras, faladas e escritas, o conceito de felicidade existe e reside no coração e nas mentes de todos os Homens e aqueles que se sentirem infelizes invejarão aqueles que parecerem felizes, e assim será ate ao fim dos tempos. Por isso, porque invejar aqueles que são mais felizes que nós em vez de empreender uma busca, obstinada (caso contrario falhareis), pela vossa própria felicidade?
1 comentário:
Obrigado pelo esforço... Quem o entende é mesmo obrigado a agradecer...
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