quinta-feira, julho 20, 2006

Um mundo cor de rosa


Os cânones de beleza actuais não são difíceis de identificar. Podem ser encontrados todos os dias nas revistas cor-de-rosa que inundam a imprensa, nos “programas del corazon” prolíferos em Espanha e Inglaterra, nos “reality(freak)shows”, nas produções cinematográficas, etc, etc, etc... Infelizmente, estes cânones têm um grande inconveniente, são impossíveis de alcançar para quase todos os mortais. E não só são demasiado altos e, como tal, virtualmente inalcançáveis para a esmagadora maioria da população mundial, como estão revestidos de um carácter obsessivo.
Quase todas as mulheres estão obcecadas por ter a figura de Gwyneth Paltrow, por possuir as voluptuosas formas de Shakira, por ser tão atractivas para o sexo oposto como Angelina Jolie ou outra semelhante “sex bomb”. Mas nunca o são, porque as mulheres atrás citadas são fenômenos da natureza, são excepcionais, e as mulheres normais, por mais que se esforcem, nunca conseguirão ser como elas.
O resultado é que todas estas mulheres normais passam as suas vidas buscando algo que nunca poderão conseguir e nunca poderão sentir-se bem com o seu físico. Começa pela anorexia na adolescência, continua com as dietas para emagrecer durante a fase adulta e culmina com uma sequência de cirurgias plásticas na velhice (quando não chegam antes), destinadas a evitar a decadência física que pressupõe esta etapa derradeira.
Sei que estas linhas provocarão a revolta do sexo femenino, dirão que é uma observação injusta, que elas também são lindas, que poderiam ser estrelas como Angelina Jolie ou Nicole Kidman. Bem. Algumas sim, repito:algumas, mas temo que a esmagadora maioria não.
E quero sublinhar o facto que o meu objectivo ao escrever estas linhas não é insultar a vossa beleza, para isso não escreveria nada, gastaria o meu tempo fazendo outra coisa, masturbando-me em frente à televisão vendo as mulheres atrás citadas ou jogando ao computador, ou ainda melhor, dormindo, mas não, estou a gastar o meu tempo escrevendo e por isso é licito partir do principio que escrevo algo que é útil ou pelo menos, assim o considera seu autor. Portanto, volto a dizer, não tenho como objectivo dizer que vocês não são bonitas, mas sim tenho como objectivo afirmar que a sociedade está doente.
Pergunto-me se tudo isto tem realmente algum sentido?
Porque deve um bando de maricas como Gucci ou Dior dizer como é o aspecto de um homem? Estou-me a cagar se tenho um corpo Calvin Klein ou se sou um “metrosexual” como Beckham. Quando é que começamos a apaneleirarmo-nos desta forma? Como é que isto aconteceu? “Gims are crowded with guys trying to look like men”. (Fight Club)
Eu digo: foda-se Gucci, foda-se Armani e foda-se CK! Eu digo: começa a sentir-te bem com o teu aspecto porque é o primeiro passo para que te sintas bem contigo mesmo. O teu corpo é o teu templo, não é um objecto de vaidade ou um componente mais da tua vida social. Não te injetes merdas para que te cresçam músculos porque queres dizer que estás todo bom. Isso é para putos e paneleiros e se não és nenhum dos dois então esqueçe!
Para libertar-se da prisão social e ser livre o homem moderno tem que conseguir escapar do jugo da dictadura da imagem.
A vaidade é aceitável dentro de um certo limite, mas quando sobrepassa esse limite converte-se numa patologia. E a sociedade, como um todo, está doente e padece deste mal. O excesso de vaidade. E eu mesmo me incluio. Mas não me sinto orgulhoso por isso.
Estamos todos encalhados neste mundo cor de rosa em que para ser pessoa é preciso ser magro, musculoso e ter um bom penteado. Será que isso é mesmo o mais importante ou será que perdemos todos o rumo, e se assim é, aonde nos dirigimos, ao abismo?
Sem dúvida me inclino em direcção à segunda opção.
Não creio que se devam julgar as pessoas por terem bom aspecto, acho que isso é decadente. Creio que o aspecto não deve determinar o valor de ninguém, outras características sim. A inteligência é importante, mas principalmente a coragem, a lealdade, a fidelidade, a bondade e a fraternidade são para mim os verdadeiros méritos do carácter.
E preocupam-me realmente todas essas putas-modelos que podemos ver na televisão, em particular em países como Espanha ou Inglaterra muito dados a uma programação sensacionalista. É esse o modelo que devemos dar às nossas crianças, deve ser esse o modelo social da nova geração? Pouco a pouco a televisão converte-se no câncer que nos devora e rouba a nossa riqueza de espírito.
Povoa o nosso mundo com a mediocridade, a desinformação e aqui em Espanha estamos atolados diariamente com discussões de gays e putas que enchem as folhas dos jornais da “prensa del corazon” e protagonizam programas em horário nobre.
Onde é que vamos parar? E pergunto-me o que fazer a respeito, mas o mesmo seria perguntar, como fazer com que todas as pessoas deixem de ser estúpidas? Porque todos, de uma forma ou outra, em uma ou outra medida, estamos já imersos neste Dantesco Inferno cor-de-rosa. E a dictadura da imagem ganha mais força a cada minuto que passa. A ditadura da moda, da roupa, dos telemóveis de terceira geração, dos corpos danone, dos actores, dos jogadores de futebol e dos apresentadores e apresentadoras de televisão. O circo, o medíocre, o intranscendente domina as nossas vidas.
“Gyms are crouded with guys trying to look like men”.
Sei que esta sociedade está gravemente doente, e sei que no fundo tu também. Esta sociedade dos Reality Shows, dos “Programas Del Corazon”, das Vitórias Beckham, dos perfumes, das putas de luxo, das Britneys Spears, do exacerbado capitalismo, das discotecas, etc, etc, etc... E pergunto-me se não existem outros que se sentem como eu? Ah, mas existem, sei-o perfeitamente. Alguns deles são meus amigos. Mas o que fazer para escapar de todo este mundo? Não sei. Mas refletir sobre o assunto ja e um primeiro passo, sempre o mais importante.

E recordem, enquanto voces reflectem sobre tudo isto o grande irmão estará a observá-los, por isso sorriam.

1 comentário:

Diogo Vaz Pinto disse...

Bem eu percebo muito bem de onde vens e é claro que numa linha por vezes mais radical e noutra mais benevolente vou sempre de encontro ao que vais dizendo...

No meu entender esse mundo cor de rosa é uma emancipação de uma classe social que precisa respirar uma cultura informal de facilitismos onde se pode começar por expressar qualquer tipo de impressões tendo por base esse mundinho cor de rosa onde tudo surge com uma estética tratada mas que no fundo logo se revela uma maçã tão linda se olharmos pela casca e tão podre se lhe virmos o interior...

As larvazinhas são as pessoas que conseguem... Posso exceptuar uns poucos casos do que eu próprio (vítima também da moda)consigo avaliar mas a maioria destas pessoas são pura produção fictícia e normalmente no fundo até são desconcertantemente normalecas e parvinhas como a gente mais miúda...

Mas esses canones afectam-me, perfilho o Fight Club por opção mas sou filho deste mundo lata por nascimento e associação... Mil vezes ao dia me penetencio involuntáriamente por isto mas a verdade é que não me liberto.

A liberdade passará por uma nova regra mais confortável para avaliar como dizes o carácter nosso, mas para já isso vai longe e o importante agora é agradar

Se intelectualmente por mim saio para a rua na esperança de matar, fisicamente saio e gostava que me olhassem e aceitassem tanto mais quanto seja possível, talvez fosse um sonho se pudesse deslumbrar - até mesmo a gorda parva feita estúpida desinteressante e tão necessária ao mundo como uma poia deixada por um cão no meio do caminho que vou fazer hoje para chegar à universidade...