sábado, julho 29, 2006

Mediocridade vs. Fanatismo vs. Equilibração




Dos vários tipos de pessoas que andam pelo mundo quero distinguir dois: os que se contentam com pouco e os que não se contentam.

Há por ai espécimenes de pessoas cuja mediocridade desperta mais desprezo que tristeza. São aquelas pessoas que comem o que se lhe é posto na frente, pouco ou nada ripostam, pouco ou nada mais desejam, e o pouco é sempre de forma inconsequente. São as pessoas do “’Tá tudo bem”, aquele ‘tá tudo bem de quem não se gasta a pensar nos problemas e vitórias que tem. Aqueles que aceitam a sua meia-vida em todos os domínios desta (espiritual, material, emocional…). Parece que pensam que a vida é um aguentar até à morte. Quando a vida lhes dá limões, comem os limões mesmo assim, ao natural, melancolicamente, com pouco apetite, fazem caras esquisitas e dizem que não é mau de todo. No final de contas para chegar até amanhã não é preciso mais. A sobrevivência está assegurada. Na sua opinião a vida tem apenas de ser suportável.

Depois há os outros, aqueles que correm e correm à procura de sabem lá o quê. A sua motivação é louvável, não haja dúvida. Mas de tanto andarem a correr atrás do objectivo a seguir ao próximo, cansam-se e ficam cegos. Na pressa pelo depois de amanhã atropelam-se a si mesmos, passam o fim-de-semana a correr para que o próximo esteja mais perto. Correm e correm e correm. Nada é suficientemente bom, tudo é insuficiente, somos todos umas bestas, tudo o que está feito é para ir para o sótão. Frente a frente com uma cesta de limões comem tudo em menos de nada, fica tudo ratado, vai a cesta e tudo, e nada sabe a nada. Não interessa o que fazemos, mas quanto fazemos. O que importa é a quantidade. Há que correr, né?

Pois bem, nem uma nem outra me parecem bem. Eu cá sou mais um equilibrista. A procura de uma “homeostasia” é o que nos faz crescer e em última análise viver. Mas viver no sentido de viver a vida como dádiva. Sem medo de morrer, mas no entanto não querer. No fundo nem tanto ao mar nem tanto à terra. Nem 8 nem 80. Mas alto lá! A procura de um equilíbrio implica decidir e lutar. Escolher o próximo passo a dar e não ser levado pela mão. Escolher o próximo passo a dar e não correr à maluca, mais depressa do que as pernas. Se for preciso bate-se em pessoas, é fundamental a indignação, a paixão, a raiva, a calma, muitas coisas. O equilíbrio não significa passividade e estes são comummente confundidos. Não. O equilíbrio nunca é total, estamos sempre perturbados, graças a Deus emocionados, e a procura do equilíbrio não passa por apagar as perturbações, mas sim jogar com elas. Equilibração não é estagnação mas hipótese de progressão. Equilibração ao bom estilo Piagetiano. A vida dá-nos limões e nós fazemos limonada.

Epá… sim ou não?

1 comentário:

Diogo Vaz Pinto disse...

Decididamente sim!

Olha Fil é um dos posts mais completos e interessantes que já tivemos por aqui... Fico realmente contente e gostaria de ter sido eu a escrevê-lo... Identifico-me nessas palavras e o pior é que sinto em mim uma mistela de sensações, por mim e pelos outros... Parece-me que trazes à ideia uma simbiose que resulta de não se perceber a fronteira que cruzamos e aquela que nos pára...

Gostei muito