domingo, setembro 21, 2025


Desta linha em diante evite, por delicadeza,
o contacto visual, ou movimentos bruscos.
Fazemos o melhor, mas os cortes, bem vê
os problemas que vão causando.
Perdoe este odor, nem a lixívia ajuda,
não se consegue muito melhor.
A água não sabe mal,
se puder abstrair-se do copo dessa cor,
eles culpam a rotação infernal aqui,
estas repetições, às vezes parece
que ajuda a dormir, e a verdade
é que damos uns pelos outros
sorrindo no fundo de cada sonho…
"Merda", "merda" repete aquele e às vezes
com os dedos cheios dela enche
de notas de música as paredes.
Levámos anos antes que alguém 
que as pudesse ler se desse conta
do encanto absurdo dessas composições. 
Esse pinta a fruta toda de uns quantos séculos 
e atrai todas estas moscas, mas se não
lhe damos os óleos ainda é pior, a gritaria 
lançava os outros num motim. Como vê,
essa janela já não serve, e até 
deixou de funcionar depois de o último 
se ter lançado lá abaixo, as grades
deixam-nos a todos bastante tristes
mas o mais estranho foi como parecem
ter raspado a montanha e o fizeram 
em tão poucos dias. Era toda a altura
que tínhamos. É difícil dizer o que é pior.
Andamos de eternidade em eternidade,
e depois isto. Mal se consegue ler cá dentro.
Os eléctrodos fazem tanta comichão...
Mas a respiração do espelho deixa-nos ver
o pó dançar, e a imaginação de alguns
não tem fundo, vivem numa perpétua vigília.
Naquilo que eles sabem, estão sozinhos.
Os versos são um morse, uma luz
intermitente. Canções arrastando os pés,
essas senhas trocadas entre condenados.
Afinal, não foi sempre essa a pergunta
que nos fizemos: se teríamos a coragem
de morrer disto, destas visões? Mas hoje
já nem se dá pela diferença, lá fora
consegue ser mais duro. E que diferença faz 
em que ano estamos agora que ao tempo
se lhe acabou o fôlego, e o certo é que
vai demorar ainda mais algum até nos darem
razão? Por sorte a loucura distrai-nos.


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