terça-feira, junho 25, 2024


Ok,
e como esperas fazer sentido disto?,
talvez, se te disser como ando, onde,
outro paraíso de postal, mas a noite dói 
como em qualquer espelunca, 
as vistas dão-nos cabo da paciência,
a agitação e a música cada vez mais gratuita,
aqueles que parecem suspensos por fios
dançam sem qualquer temor,
nunca se despenharam, nem desconfiam
dessa fúria que escava em nós um vício,
recuados, ao fundo, toda essa infantaria 
desmobilizada, homens desfeitos
a segurar um copo com um grande esforço 
para não ruírem de vez, um pequeno quadro
na parede mostra um dorso branco
à superfície de águas tão sujas,
não parece haver nenhum lugar
para onde ir, nenhuma viagem
que pudesse mudar o estado das coisas,
até a beleza se tornou inconveniente,
assediando todos esses que não têm
nada melhor para fazer, fatalmente
chega esta idade em que os olhos
apenas exprimem o desejo de desertar,
fugir à primeira, se aqueles que dizem
que te amam não tiverem à mão 
pregos suficientes, se a culpa e o remorso
não fizerem a sua parte, em menos de nada
lá vais tu de mãos nos bolsos à boleia
de um assobio, convencido como dantes
que as tardes e as estradas ainda fazem
o que sempre fizeram, quem dera
se alguma buzina soasse a convocar-nos,
e houvessem rostos que nos buscam,
aquele sinal de reconhecimento,
estávamos radiantes por nos verem
como uns inúteis, e que paciência incrível 
tínhamos então para os disparates uns
dos outros, os delírios, todos esses sonhos
que iriam dar cabo deste mundo.


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