Nasce-lhe entre os cornos uma flor
digna da idade média e da beleza discreta
de que um homem é capaz se perdeu
as chaves não dorme a horas e colhe
nos estendais a roupa, vive de cuidados
cravando isto aquilo de que outros
nem se lembram, e a natureza roça-se,
o mundo lembra-se por ele, um pássaro
molha-se num tanque e deixa as cores
em suave tintura dançando, eu
se tivesse forças dividia-me também
como pão partido pelos bichos
tinha o horário das sombras decorado
e os jardins onde se misturam os poucos
caçadores de ilhas, se raro me sinto fresco
na carne, o golpe que me resta fica
embalado noutros corpos, a pele do dia
cheia de rubor caindo como a casca
de um fruto dulcíssimo, vejo
alguma importância nisto e tenho gosto
em ser o isco de ciclos por que ninguém dá,
como presa frágil a desintegrar-se
na memória breve que das coisas guarda
a água, empurro a quilha de um sonho
que vem aos pedaços, tremo de nada,
e fico-me por uns poucos centímetros
num mapa, ferido, de pé, a assistir ao vento
levando a folha arrancada de um caderno
onde um pormenor talvez se salvasse.
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