quinta-feira, agosto 04, 2022



Era no tempo das fotocópias manuel de freitas
as que fazia na biblioteca nacional dos livros
magros que tão habilmente tornavas raros
e se doze anos depois até compraria esse
por uma pechincha não me soube já tão rude,
ameaçado e ressoante como então na intensidade
da juventude antes de o ridículo a desmanchar
e os ídolos se revelarem meros impostores
ia fazer três anos desde que nascêramos
eu e uns poucos mais que muito pouco se viam
sem saber demasiado uns dos outros a não ser
o assobio comum e frio soando no mais íntimo 
terror da carne enquanto o sangue e a pulsação
aprendiam a desfazer o relógio a dissolver
uma a uma as peças demolindo de caminho
a torre de sombra que revia o perímetro inseguro
da infância, tudo apurava os sentidos à beira
dessa íntima ressonância que valia bem pelo mar 
com gradações que favoreciam outros meses
os objectos desenhados à luz secreta do abandono
e como eles as palavras resíduo de uma dor
que sempre foi mais pressentida que conhecida
como a morte afinal que depois desses dias
nos soube sempre a pouco insossa sem gravidade
nem Deus e quanto à beleza essa cada vez
parecia andar mais por fora por outros caminhos
e já nem se dispunha a ouvir os teus sarnosos 
lamentos, tinhas prometido o fim mas tentavas
como todos afinal repetir uma música irrepetível

 


 

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