quarta-feira, dezembro 09, 2020


Carta do achamento daquelas ilhas lá
onde deliram por ordem os teus náufragos
lendo alto a mesma história o gole de água
salgada passando por tantas bocas,
consertam uma só rede de ecos ritmos
prendendo a ela um nada puxam de volta
o mundo tombado como canção
flor de sangue num lenço, memória brisa
indícios arvorando, pontas soltas, pássaros
a oração em cortejo das primeiras noites 
ainda trémulas, e o corpo que desde lá
perdeu sentido contra a carne aberta
do vento. Do desejo ficou o caroço,
chupa-o fingindo alcançar o sabor
e toca um enjoo a que pôs cordas, 
imita que faz e fuma um cigarro,
coroando-o a nuvem mais chegada e
muito ao fundo sons como se gente
algum ronco no estômago da alma,
até que estar só faz de deus uma dor
plausível, verão desfeito porque não lhe
demos corda, e o mar, o pior dos álcoois
fazendo-nos a cabeça, amadurando
o fruto a ver se cai e adoça o chão.


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